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CONHEÇA SEU VINHO: MALBEC

Conheça Seu Vinho: Malbec

Do domínio em seu berço real à quase extinção e seu ressurgimento em terras longínquas. Conheça um pouco mais sobre este vinho extraordinário de uma uva que se recusou a desaparecer.

            Em um mundo de uvas tintas muito poderosas e populares, não é tarefa fácil encontrar espaço para crescer. Veja bem, disputar os metros quadrados de vinhedos centenários, nos mais prestigiados vales europeus, com variedades como Merlot, Cabernet Sauvignon e Franc, Pinot Noir e tantos outros não é nada convidativo. É preciso muita qualidade e resiliência para enfrentar este cenário sem perecer, ainda mais se considerarmos que esse desafio não está nem próximo de ser o pior que a elegante Malbec enfrentou por (literalmente) um lugar ao sol.

            Esta uva tintória, de cor profunda e amplos taninos, possui uma casca grossa, indicando o potencial para elaboração de vinhos ricos em estrutura e complexidade. Normalmente, precisa de mais horas de sol e calor para atingir o ponto ideal de maturação do que seus parentes próximos, como a Merlot. Por suas características de coloração e corpo, a Malbec ganhou popularidade para servir de apoio em cortes com outras variedades tintas de alto potencial, especialmente Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, com seus produtos chegando a ganhar o apelido de Vinho Negro (Vin Noir) justamente por conta de seus tons intensos.

            A uva Malbec tem potencial para alta produção em quilos por planta mas também exige muito cuidado por ser sensível a certas doenças da videira e, por conta dessa característica, os viticultores preferem manter a produção mais baixa e a planta mais segura e forte. Um fato curioso é que existem muitos hectares de Malbec, especialmente em sua região de nascimento, plantadas em um sistema muito peculiar, chamado de Gobelet, muito diferente do que encontramos no Novo Mundo, onde a videira cresce como um pequeno arbusto, sem sustentação ou guias.

           

Onde surgiu a uva Malbec?
 

            Esta uva tintória de taninos robustos era amplamente cultivada em todas as regiões do leste da França. Do Vale do Loire, ao norte, passando por Bordeaux, onde ainda é uma das seis variedades permitidas no tradicional corte bordalês, até a região Sudoeste (Sud Ouest) onde tem grande importância, sendo obrigatoriedade seu uso em, ao menos, 70% do conteúdo mínimo dos cortes da região de Cahors. Nesta localidade a Malbec é conhecida como Côt ou Côt Noir mas tem diversos outros nomes pela França, ou melhor, “diversos” pode não expressar muito bem a quantidade de sinônimos já que o famoso ampelógrafo Pierre Galett registrou mais de 1000 nomes para esta antiga variedade.

            Esta longa lista com formas de chamar a mesma uva ilustram um pouco de sua longa ligação com a França ao passo que pode confundir os pesquisadores na busca por sua linhagem de sangue. Apenas em 2009, estudos desvendaram que a Malbec é resultado de um cruzamento espontâneo entre as variedades Prunelard, uma uva sulista ancestral praticamente extinta com a praga da filoxera no século 19, e da recentemente descoberta Magdeleine Noire des Charentes que curiosamente também é a “mãe” da Merlot. Este parentesco entre variedades tão próximas pode ter contribuído para sua sensibilidade a algumas doenças e intempéries e quase culminou com sua extinção.

 

A Queda e a Renascimento no Novo Mundo

 

            No início dos anos 50 a Malbec já disputava importância nos vinhedos com seus pares de variedades tintas potentes, mas o pior golpe estava por vir. Em Abril de 1956 uma geada histórica, lebrada até dias de hoje, destruiria grandes extensões de vinhedos em uma única noite, dizimando milhares de plantas de Malbec que em seguida seriam substituídas por outras variedades mais resistentes.

            O que parecia o fim da linha era apenas o início de um novo capítulo. Mesmo que tivesse perdido espaço em algumas regiões da França, suas características excepcionais de cor, aromas e estrutura já estavam conquistando outras regiões produtoras, especialmente no Novo Mundo, com climas mais quentes e regiões de altitude onde a Malbec ressurgia ainda mais imponente.

            Apesar de ser cultivada na África do Sul, EUA, Canadá e até Austrália e na América do Sul que ela encontrou nova e muito mais apropriada morada. Introduzida provavelmente no Chile, foi graças ao trabalho do agrônomo Michel Pouget que, a pedido do presidente da Argentina Domingo Sarmiento em 17 de Abril de 1853, a variedade chegou ao nosso país vizinho e aos poucos foi ganhando prestígio e mais áreas de cultivo. Mais tarde este dia seria instituído como o Dia Mundial do Malbec, celebrado até hoje.

 

Notas e Harmonização

 

            Com a chegada do Malbec à América do Sul e nosso clima mais quente e de amplitude térmica dias mais quentes e noites mais frias) seus vinhos possuem características únicas, que se diferem do estilo mais simples do hemisfério norte. Os exemplares sul-americanos são muito intensos e com aspectos mais marcantes, fazendo com que esta uva, antes vista como ajudante em cortes, se transformasse em uma potência como varietal.

 

Características Gerais: Os vinhos elaborados com Malbec apresentam acidez moderada com taninos marcantes porém muito maduros, podendo atingir teor alcoólico entre 12 e 14%. Seus taninos elegantes são elevados com uma passagem generosa por barricas de carvalho, preferencialmente francês, entre 8 e 12 meses. Pode ser elaborado para ser consumido mais jovem ou trabalhado para envelhecer em garrafa por 08 ou 12 anos.

 

Notas e Serviço: A cor dos vinhos de Malbec é bem típica, com um tom rubi e reflexos violáceos sempre intenso e profundo, possui aromas de violeta pimenta preta e frutas negras como ameixa e amoras mas se destacam os aromas do amadurecimento em barrica, muito harmoniosos como café, baunilha e tabaco. No paladar dominam os taninos macios e ótimo volume. Deve ser servido em taças com bojo maior e em temperaturas de 16 à 18°C. Pode se beneficiar muito com 30 à 60 minutos de decanter.

 

Harmonização: Os vinhos Malbec, especialmente os mais intensos como o Casa Marques Pereira Reserva harmonizam muito bem com cortes de carnes vermelhas e aves. Muito versátil, pode acompanhar pratos com molhos ricos e até certa picância. Para os vegetarianos, pode fazer uma ótima dupla com queijo de cabra, cogumelos e legumes grelhados.

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