Vinho Varietal: O que significa e por qual motivo é tão popular?
Muitos novatos no mundo do vinho e da uva geralmente enfrentam alguns desafios ao ler os rótulos das garrafas e seus termos técnicos e diferentes. Entre tantos outros, um destes é bastante presente, importante e com muita história pra contar. A expressão “Varietal”.
Diversos termos do mundo do vinho são utilizados para descrever suas características únicas e, convenhamos, gostamos de muitos floreios e enfeites pra falar sobre nossas preciosas garrafas. São como filhos de pais orgulhosos, e queremos que suas qualidades fiquem bem evidentes para todos. É normal que neste mar de adjetivos, alguns termos possam ser confusos para iniciantes, mesmo que algumas palavras sejam fundamentais para a compreensão do produto. Quando se trata das informações básicas de um vinho, termos como variedade e varietal são muito comuns porém frequentemente utilizadas de forma incorreta.
Quando falamos de variedade, nos referimos à uva que deu origem a algum vinho, espumante ou suco em específico ou que compõem sua mistura. Muitas denominações que conhecemos bem são simplesmente os nomes de batismo de diferentes uvas, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Pinot Noir e centenas de outras. Mas e quando esses nomes estão estampados em letras generosas no rótulo do meu vinho? Nesse caso, são bem grandes as chances de você estar degustando um vinho varietal.
O Que é um Vinho Varietal?
De maneira bem objetiva, um vinho varietal, ou monovarietal, é composto exclusivamente (ou quase) de uma única variedade de uva, por isso muitos rótulos trazem a informação do nome da uva destacado, a ideia é informar que o líquido ali contido traz as características e qualidades da matéria-prima original. Importante mencionar que para um vinho ser considerado varietal, ele não precisa necessariamente ser composto 100% de uma única casta, podendo ser elaborado com a participação de uma pequena fração de outras variedades de uvas, com o objetivo de alcançar o ajuste fino nas características de acidez, corpo e aromas.
Cada país ou regiões produtoras possuem regras próprias para a definição de vinho varietal. No Brasil e Chile, por exemplo, um vinho precisa ter, no mínimo, 75% de uma única uva para ser considerado varietal e ostentar seu nome. Outros locais, como a África do Sul, obrigam que o produtor mantenha até 85% de uma variedade para classificar como um monovarietal.
Onde Surgiram os Vinhos Varietais?
Mesmo que a elaboração de vinhos com uma única variedade de uva seja uma prática muito antiga (afinal não existiam muitas variedades nos tempos antigos), o conceito de varietal é mais moderno e tem laços muito íntimos com o chamado “Novo Mundo”, como Estados Unidos, Brasil e Austrália, entre outros. Não é segredo que a Europa controlou a produção de vinhos por muitas e muitas décadas, esse domínio foi suficiente para estabelecer algumas pequenas regiões como símbolo de bons produtos.
Através dos anos, beber um vinho com determinadas características era definido pelo nome do local, como Bordeaux, Borgonha e Toscana e, enquanto estes países seguiam tranquilamente sua fama, os novos produtores tinham dificuldade em convencer os compradores de que seus vinhos também tinham muita qualidade. Afinal, onde estava o “pedigree” desses novos vinhedos?
A ideia de concentrar os esforços em promover as uvas como protagonistas pode ser atribuída à Maynard Amerine, um pioneiro da pesquisa e desenvolvimento de uvas e vinhos nos Estados Unidos durante a Lei Seca, na década de 20. Maynard tinha como principal objetivo usar o termo varietal como incentivo aos viticultores na busca por variedades de uvas mais adaptadas à realidade americana. O termo ganharia força nos anos 70 com o boom dos vinhos do novo mundo, sendo seu impacto tão forte e contundente que pressionou até o mercado europeu a ressaltar nos rótulos variedades que estariam na composição de seus vinhos mais emblemáticos, impensável até então.
Com o crescimento vertiginoso do mercado de vinhos varietais, a expansão e busca por novas variedades que se adaptassem aos mais distintos climas ganhou força, permitindo novos casamentos entre terroir e fruto e o ressurgimento de castas tradicionais por muito tempo esquecidas. As diferenças nos locais de plantio de cada variedade ao redor do mundo, assim como as técnicas de cultivo auxiliam ao enaltecer as características marcantes de cada tipo de uva.
Qual a Diferença de Varietal e Corte?
A alternativa à elaboração de vinhos varietais são os vinhos de corte (também conhecidos como assemblage ou blend). A diferença fundamental é que nos cortes, o enólogo não possui restrição de porcentagem de uva utilizada ou tipo de uva, podendo misturar duas, três ou dez variedades diferentes, com o intuito de agregar qualidades diferentes e atingir um equilíbrio pré-definido. Não existe uma hierarquia entre estas técnicas de elaboração, não é possível dizer que vinhos varietais ou cortes são superiores. A definição da qualidade, depende muito do potencial de cada uva em uma determinada região de cultivo e da qualidade da safra em determinado ano.
Escolher entre cada estilo ou cada varietal disponível pode ser uma tarefa complexa (mesmo que muito prazerosa), mas provar vinhos elaborados com diferentes uvas pode ser uma ótimo forma de conhecer melhor seu paladar e suas preferências, aos poucos, reconhecendo características específicas de determinadas variedades até conseguir identificar seus favoritos em um corte ao simples girar de uma taça.