Conheça Seu Vinho: Chardonnay
Uma das uvas mais populares e versáteis do mundo, cultivada em basicamente todas as regiões vitícolas, conquistou milhares de adoradores. Vamos falar um pouco sobre a inexorável queridinha das uvas brancas.
Refrescante, perfumado, encorpado, leve, intenso, prolongado… Como podemos usar características tão contrastantes para falar de vinhos de uma mesma uva? Talvez tão amplo como seu leque de adjetivos somente a capacidade de adaptação desta extraordinária variedade. Para seus admiradores, não é surpresa alguma que a Chardonnay e os seus vinhos sejam a imagem definitiva que se materializa na mente quando falamos sobre uvas brancas.
Sua capacidade ímpar de adaptação aos mais variados climas e terrenos fez com esta casta se difundisse rapidamente pelo mundo todo, ganhando milhares de hectares cultivados do berço francês à Nova Zelândia, da Inglaterra ao Brasil. A “nobre filha” da Borgonha é cultivada em mais regiões do que qualquer outra variedade existe, branca ou tinta. Para atingir seu status atual, a estrada não foi nada fácil, tanto adorada quanto odiada, já recebeu rótulos de rainha e de vilã pelas comunidades mais tradicionais do ramo enológico, tudo por sua versatilidade e poder de expressão tão amplo.
Onde Surgiu a Uva Chardonnay?
Chardonnay é uma palavra francesa derivada do latim Cardonnacum, que significa literalmente coberto por cardos, nome dado a uma pequena comuna da região de Mâconnais, no leste da Borgonha Francesa. O vilarejo cedeu seu nome a nobre uva branca que até os dias de hoje domina os gentis morros forrados de videiras carregadas de uvas de cascas verdes e leves tons dourados.
Sua história é muito antiga e tem sido protagonista em sua terra natal por quase mil anos, tornando sua verdadeira origem um mistério até os tempos atuais. Esta variedade por muitos anos teve sua linhagem ligada ao Pinot Blanc, Pinot Noir e até com a família das uvas Moscato. Somente no final da década de 90 cientistas da Univeridade da Califórina desvendaram o mapa genético da variedade, revelando que a Chardonnay é filha direta do cruzamento espontâneo entre as uvas Pinot Noir e Gouais Blanc, uma variedade virtualmente extinta.
Durante a Idade Média, a uva Pinot Noir era considerada de alta qualidade mas muito delicada para o cultivo, por ser de baixa produtividade, seus frutos e vinhos eram reservadas à alta sociedade, muito diferente da modesta Gouais Blanc, que por sua grande resistência produzia muito melhor e era a opção das classes mais humildes. Este curioso cruzamento entre duas variedades tão distantes, na verdade, é o segredo do sucesso da Chardonnay, a variedade do material genético tornou o fruto extremamente resistente e adaptável, mantendo as características de fineza e delicadeza da Pinot Noir.
A Ascensão (E Queda) da Rainha das Brancas
As características de produtividade e qualidade da uva Chardonnay rapidamente a tornaram a escolha preferida de vários viticultores da região da Borgonha. Do século 14 em diante esta variedade foi tomando áreas de produção e se modificando por várias gerações, adaptando-se a cada microclima e terroir, produzindo vinhos diferentes e instigantes. Nesta mesma região, um outro fato marcante da história enológica teve lugar, alçando a uva Chardonnay ao status de realeza. Foi ali que pela primeira vez uniram um vinho Chardonnay com um Pinot Noir para gerar um espumante, mais tarde tornando-se a base para a concepção dos aclamados Champagne franceses.
Tamanha capacidade carregou a uva Chardonnay para todas as regiões produtoras do mundo. Para muitos, seu cultivo é tido como uma porta de entrada ao mercado mundial de vinhos. Esta difusão tornou esta casta uma das mais populares até a década de 80 com o grande “boom” de consumo de vinhos. O aumento do consumo forçou a criação de grandes empresas, capazes de produzir muitos litros de vinhos, mas isso teria uma consequência inevitável: menor cuidado com a elaboração. A facilidade de cultivo da Chardonnay à tornou um alvo óbvio para produção em massa, e consequentemente, muitos consumidores notaram a queda de qualidade das garrafas mais acessíveis, com características genéricas e sem o perfil da uva. No início dos anos 90 a Chardonnay sofreu com queda de popularidade, mas suas reais capacidades a mantiveram firme no mercado, até recuperar sua glória regular e reassumir o papel de protagonismo e seus mais de 200 mil hectares plantados ao redor do globo.
Notas e Harmonização
No resumo da obra, a Chardonnay é aquilo que todo viticultor sonha, uma uva extremamente versátil, elegante, com aromas e sabores marcantes e ótima acidez. Todo este potencial torna a descrição do vinho um pouco mais complexa, necessitando conhecer um pouco mais sobre o terroir de cultivo e as formas de elaboração.
Características Gerais: De maneira geral, vinhos Chardonnay são descritos como secos de médio-corpo, boa acidez e com potencial de álcool entre 11 e 14% do volume. Possui ótima assimilação para passagem por barricas de carvalho, conferindo características muito diferentes do original, com ganho de volume, persistência e potencial de guarda.
Notas e Serviço: Os vinhos Chardonnay apresentam coloração vibrante que varia entre amarelo-palha para vinhos mais jovens até o dourado brilhante para vinhos mais amadurecidos e com passagem por barrica de carvalho. Os aromas também variam entre os originais cítricos da fruta, com notas de maça verde, casca de limão, pêssego e mel ganhando manteiga, frutas em calda, amêndoas e baunilha com o amadurecimento em madeira. Deve-se priorizar taças que favoreçam a concentração dos aromas como a estilo Borgonha. A temperatura deve ficar entre 8 e 12°C elevando conforme o estilo do vinho (partindo do mais jovem e leve até o mais amadeirado).
Harmonização: Os Chardonnay mais jovens e sem passagem por barrica combinam muito bem com pratos delicados como ceviche, saladas e frutos do mar em geral. Os exemplares da variedade com passagem por barrica podem combinar seus sabores amanteigados com pratos de sabor mais intenso como bacalhau, cortes de porco e risotos.
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