Rolha de cortiça: De onde vem e porque usamos?
A última barreira entre você e seu vinho tem uma história longa de casamento com o mundo do vinho. Afinal, de onde vem este material tão íntimo aos amantes do vinho, e como foi parar na garrafa?
Passamos tanto tempo nos preocupando com o precioso líquido dentro da garrafa, vestido com o seu rótulo favorito, tão acostumados a discutir sobre a longa e mágica jornada do vinho desde a colheita da uva até o repouso das garrafas que nos esquecemos da presença fundamental daquele objeto que foi desenvolvido justamente para garantir um repouso tranquilo e permitir que vinho atingisse seu máximo potencial.
Se não você mesmo, certamente há alguém logo ao lado que vai esboçar um leve sorriso ao ouvir o icônico “POP” enquanto uma garrafa de vinho é aberta, o tiro de partida que avisa definitivamente que a rolha partiu o longo relacionamento com a garrafa e a hora mais aguardada chegou. Vamos conter os ânimos só desta vez, pra falar um pouco mais da rolha de cortiça… Ou melhor: Retire cuidadosamente a rolha do seu Segredos da Adega Cabernet Sauvignon 2014, e enquanto aprecia o vinho e segue sua leitura, mantenha a rolha por perto.
Lembra quando falamos sobre o carvalho e como esta madeira parece ter nascido para o vinho? Pois bem, este laço é tão forte que, mesmo após o fim do amadurecimento nas barricas de carvalho, quando este mesmo vinho vai para seu repouso final nas garrafas, o carvalho não terminou sua jornada. Uma espécie muito especial da família dos carvalhos, o Quercus suber, conhecido como Sobreiro, empresta sua casca única para a confecção das famosas rolhas feitas desta cortiça que cresce lentamente por, pelo menos, 25 anos antes de que a primeira “descasca” possa ocorrer.
Ao chegar ao ponto ideal, habilidosos profissionais utilizam pequenos machados e outras ferramentas específicas para remover com muito cuidado a casca, mantendo a madeira nua da árvore intacta, sem nenhum ferimento e apta a se regenerar pelos próximos 9 anos antes do próximo ciclo de colheita. Após a extração, as cascas inteiras são separadas por sua qualidade, fervidas em um processo para remover impurezas e deixadas para secar até atingir a textura correta.
Esta espécie de carvalho é a única que possui esta característica de regeneração natural, tornando o controle das florestas muito rigoroso. O sobreiro cobre grandes áreas do Mediterrâneo, especialmente em Portugal, Espanha, Itália e França, com o primeiro concentrando quase 50% do volume total, e também no extremo norte Africano, entre o Marrocos, Tunisia e Argélia.
Se observada a nível celular, a cortiça lembra uma colmeia de bolsas de ar, esta característica torna a cortiça perfeita para conter qualquer líquido mas permitir a passagem de doses muito pequenas de oxigênio, alguns estudos apontam que uma rolha permite algo próximo à 1 miligrama de oxigênio por ano. O vinho agradece, especialmente os de grande potencial de guarda.
Além disso, as rolhas de cortiça são biodegradáveis e de origem sustentável ao passo que a manutenção das florestas de sobreiro é fundamental para o bioma das regiões áridas onde se encontram. Uma mesma árvore garantirá cortiça suficiente para fechar milhares de garrafas nos longos 200 anos de vida que se estima possuir.
Quais os tipos de rolhas de cortiça?
Como já vimos, por ser um produto natural, a cortiça está sujeita a diferentes níveis de qualidade e aproveitando o máximo que podemos desta árvore especial, existem diferentes tipos de rolha de cortiça e com suas aplicações:
-Rolha de Cortiça Maciça: É a imagem da rolha tradicional, feita 100% da cortiça natural, é a melhor parte da colheita e a escolha mais apropriada para vinhos com potencial de guarda e expectativa de longo repouso em garrafa.
-Rolha Colmatada: O processo de colmatagem é aplicado para “preencher” rolhas maciças com obturações maiores. Uma mistura de cola com o pó da própria cortiça cria uma camada protetora aumentando o contato com a garrafa, também indicada para envelhecimento médio.
-Rolha de Cortiça Aglomerada: É a forma dos produtores aproveitarem as sobras da casca que não deram vida a uma rolha maciça. Centenas de fragmentos de cortiça são unidos por colagem e geralmente o resultado é utilizado em vinhos de consumo rápido.
-Rolha técnica: Esta rolha é composta por um corpo de cortiça aglomerada com dois discos maciços nas extremidades, o objetivo é diminuir seu custo aproveitando os fragmentos, mas mantendo o potencial de envelhecer os vinhos entre 2 à 3 anos.
Dentro de cada tipo de rolha, existem classificações quanto à qualidade além de dezenas de rolhas especiais para produtos específicos, além de várias alternativas às estas rolhas naturais de cortiça, mas este é assunto para uma outra conversa. Por enquanto, vamos terminar aquela garrafa de Segredos da Adega Cabernet Sauvignon 2014 que já abrimos...